A aviação brasileira é um orgulho nacional. Se o mundo inteiro compra aviões da Embraer, se nossos pilotos são reconhecidos internacionalmente, se nossa malha aérea é uma das mais complexas do planeta, tudo isso se deve a uma base fundamental: os aeroclubes. E hoje, um deles está sob ameaça. O Aeroclube de Canela, com 75 anos de história, recebeu da Infraero uma ordem de desocupação imediata, justificada, em uma nota oficial, por "estratégias comerciais". Essa decisão é um ataque não só à memória da aviação gaúcha, mas a todo o legado aeronáutico brasileiro.

A Infraero, que deveria zelar pela infraestrutura aeroportuária do país, age como se o valor de um aeródromo se resumisse a seu potencial comercial, ignorando sua função histórica, educacional e comunitária. O Aeroclube de Canela não é um terreno a ser negociado – é parte de uma rede vital que forma pilotos, mantém viva a paixão pela aviação e serve à população em momentos críticos. Basta lembrar seu papel heroico durante as enchentes no Rio Grande do Sul, quando suas aeronaves e pilotos ajudaram a salvar vidas, levar mantimentos e socorro a regiões isoladas pelo maior desastre climático da história do estado. Enquanto o Brasil chorava as perdas, o aeroclube agia. E agora, a Infraero quer retribuir essa dedicação com despejo?

Não é a primeira vez que o "progresso" se disfarça de desculpa para apagar a história. O Aeroclube de Pirassununga enfrentou, recentemente, situação semelhante: interesses imobiliários questionáveis tentaram silenciar suas atividades. A Infraero repete o erro. Em vez de buscar sinergias, prefere a imposição. Em vez de valorizar instituições que formaram gerações de aviadores, trata-as como obstáculos. Que estratégia é essa, senão a do esquecimento planejado de nossa própria identidade aeronáutica?

Os aeroclubes não são lotes comerciais – são escolas do ar. Eles transformam sonhos em profissões, mantêm viva a memória da aviação, realizam eventos que unem comunidades e, acima de tudo, provam que o céu brasileiro não pertence a corporações – pertence ao povo. Se o Brasil é respeitado no mundo pela excelência na aviação, é porque em cidades como Canela, Itápolis e tantas outras, mantiveram acesa a chama que a burocracia agora tenta apagar.

O Aeroclube de Itápolis não vê o de Canela como distante – vê como parte do mesmo voo. E é assim que toda a comunidade aeronáutica deve se posicionar: unida. A Infraero precisa rever sua decisão antes que "estratégias comerciais" destruam o que dinheiro nenhum pode reconstruir: 75 anos de história, serviço e amor pelo voo.

O Aeroclube de Canela não pode ser apagado do mapa da aviação brasileira. E essa luta não é só deles – é de todos nós que acreditamos que o céu deve ser para sempre um espaço de sonhos, não de especulação.

Publicado em 13 de abril de 2025